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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Beija eu?!



- Não quero te machucar!
- Relaxa. Não sou menininha de dezessete anos que vê príncipe encantado em qualquer canto.
- Eu sou sapo né?!
- Não te beijei ainda pra saber!

(Silêncio)

- Me beija?
- Por quê?
- Quero saber se eu sou seu príncipe!
- Mas e se você não for?
- Se não for, não foi.
- E se for?
- Se for, foi.

(Barulho de beijo)

- E agora?
- Continuo o mesmo.
- É.
- Virei principe pra você?
- Não.
- Ainda sou sapo?
- Talvez.
- O que a gente faz agora?
- Essa é a hora que eu corro, o relógio aponta meia noite, e deixo meu sapatinho de cristal para trás. Você me procura, me acha, e a gente vive felizes para sempre. (risos)
- Só tem um problema...
- Qual?
- Te procurei por todos esses anos. Não precisei de sapatinho pra chegar até você. Te achei. Você me beijou. E eu não virei principe. Mas se você me der a chance, e quiser, eu posso ser seu mundo!
- Eu quero. E agora, o que fazemos?
- Essa é a hora que a gente faz o "felizes para sempre" dar certo, sobretudo acontecer.

... E foi o que eles fizeram. Ou pelo menos tentaram. Ou tentarão. Tanto faz. Eu não sei.

domingo, 26 de agosto de 2012

Meu Trem!



Uma mochila com algumas mudas de roupas. Guarda roupas com todos meus casacos e calças enfileirados. Minha cômoda intacta. Cama arrumadinha. Quarto com cheirinho de bom ar. Aquele cheirinho de casa fechada. Nos portas retratos fotos de quando eu morava ali. Fotos dos meus dezesseis, dezessete anos. E é tão estranho ver que à cada vez que volto ali me sinto um pouco mais velho ao ver minha imagem refletida no espelho de dois metros por um metro e meio da parede do meu quarto. Fotos de alguns amigos, muito deles agora, se tornaram apenas conhecidos. Outros conhecidos que se tornaram grandes amigos. E aqueles que realmente valem a pena. Outros não. 

Deito na minha cama, e automaticamente me vem todo um flashback de todas as coisas que já fiz ali. Com quem eu me deitei. Quem se deitou. O que se passou por ali. Olho para todos os cantos do meu quarto com um ar de nostalgia, e sinto saudade, choro, me reviro entre os lençóis, viajo, relembro, penso em voltar. Lembro das minhas tardes de finais de semanas entre amigos. Os mesmos que me faziam companhia ao fazer um bolo de chocolate, ao tomar aquele vinho barato de supermercado assistindo filme de comédia. 

Sinto falta daquelas risadas escandalosas da madrugada. “Ri mais baixo” dizia meu pai socando a porta do meu quarto. E eu ainda o sinto ali. “Vem almoçar, menino. Computador não enche barriga” me dizia ele querendo que eu me desconectasse do mundo virtual. Eu revirava os olhos, e achava aquilo um saco. Mas meu Deus, como eu sinto falta. Daria tudo, tudo mesmo, para ter somente mais um momento daquele. Mais um dia de risadas com meus velhos e bons amigos, mais um dia de reclamações cansativas de meu pai, mais um dia com dezessete. Queria mais um dia de inocência, mais um dia sem preocupação. 

A gente cresce. Foi o que eu disse pra minha melhor amiga ontem por telefone. Nos conhecemos nos tempos de colégio. Eu tinha quatorze anos quando ela com toda intimidade do mundo veio se apresentar a mim na cantina do meu novo colégio. Foi amor, amizade, tudo, a primeira vista. Hoje estamos crescidos, e choramos calados àqueles velhos tempos, os quais não tínhamos preocupações com nada, éramos crianças e achávamos que sofríamos, quanta futilidade. Depois de um bom tempo sem contato, ontem, ela me ligou, e ficamos horas no telefone, até me atrasei para um encontro. Falamos da vida. Me abri. Falei do que eu passei fora de casa. Que é o que todo mundo passa. E falei como a gente tem que ter paciência para que as boas coisas fluam conosco. Ela me falou dela, o que certamente não foi diferente, falou do namorado, e eu falei das minhas experiências infrutíferas. 

Às vezes me acho tão apegado ao passado, que não consigo aceitar a ideia de que a vida é uma constante mudança, me lembro de uma brincadeira que uma professora da Quinta Série do ensino fundamental fez comigo (quando ainda aluno). Ela pediu para desenharmos um trem, e colocar nossos amigos, famílias, etc... dentro de um vagão. Assim que fizemos, ela suspirou e disse: Essa é a vida. É um trem. Algumas pessoas vão descer nas estações antes da sua, outras vão abandonar a viagem por medo, outras terão de fazer, e terão aquelas (como sua família) que estarão com você até o final. Existirá também aquelas árduas despedidas, como também existirá aquele adeus que vai te cortar pela garganta e que você terá de fazer. Queria eu com os meus onze anos de idade entender a vida como ela exatamente é pra não ter achado aquele exercício idiota quando me passado. 

Sou apegado aos detalhes. Me apego nos detalhes, e me desapego nos mesmos. Sou totalmente detalhista. E me lembro das coisas mínimas, aquelas que jamais ninguém lembraria, ou seria muito improvável que não. Dou comida ao meu peixinho, e me lembro de como eu enchia o meu quarto de animaizinhos para suprir a minha carência. Eram hamsters, tartarugas, peixes, calopsitas, tudo. Até mesmo o meu coelhinho. Eu sinto tanta falta disso. E me assusta me olhar no espelho agora, e me ver grande, ver que o garoto daquelas fotos ali não existe mais, ou existe e eu não sei onde foi parar. Ver que minha carinha de novo já era, e que aquele corte adolescente que me deixava com carinha fofa já não me cai mais bem. Aquele tênis skatista faz com que eu me pareça ridículo. E  aquele cinto é da época da minha avó. 

Nessa passagem me tranco ao meu quarto durante o final de semana inteiro. Não me importa o mundo lá fora, não me interessa o que está acontecendo naquela velha cidade, eu não me importo. Eu quero reviver todas aquelas coisas, eu quero poder me lembrar, quero poder voltar, quero poder ter tudo aquilo de novo. A inocência, meu pai, meus velhos amigos, aquelas festas, aqueles picnics no meio do mato com muita bebedeira. Quero ser Seventeen Again. É isso. Eu quero. 

Domingo, dez e meia da noite, horário de voltar para o Rio de Janeiro. Comprei o último horário, pois queria ficar até o último segundo no meu quarto. Uma alça da mochila no ombro, revisto com os olhos para ver se me esqueci de alguma coisa, confiro novamente, e sempre esqueço, mas nunca percebo. Minha mãe na porta com aquele olhar “Volta, meu filho” e eu com aquela cara de que “Eu preciso ir”. Olho tudo ao redor novamente, revivo as fotos, revivo os momentos, revivo as pessoas. Apago a luz, fecho a porta, e respiro fundo. Aceito a ideia de que passou. Tudo passou. É um vagão de trem. Repito em voz baixa. Algumas desceram nas estações anteriores. Outras permanecem comigo. Algumas eu precisei fazer descer. E eu, preciso chegar ao ponto final. 

Minha mãe me dá um beijo na testa, me abraça forte, e diz: "Quando chegar me liga!" Saio de casa, e me dói. Me dói não ter mais o abraço do meu Pai, mas me conforta saber que de alguma forma, se existe vida for daqui, saber que ele está olhando por mim agora. Entro no carro. Vejo minha casa se afastando pelo retrovisor. Saio daquele bairro relembrando minhas brincadeiras de crianças. Aceno pra velha senhora que me tem como "neto", e sigo meu caminho. "Eu quero ter você de volta. Lá em casa. Mas fica. Não vou falar mais nada. Não vou fazer você voltar. Meu filho, fica. Porque o mundo é seu!" Disse meu pai antes de falecer.

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