Era noite. O céu estava meio azul marinho, uma noite linda,
e intensa. De onde estavam conseguiam avistar o céu nitidamente pela janela do
apartamento. Ana, deitada ao peitoral de Pedro avistava as estrelas em
silêncio, enquanto ele acariciava seus cabelos.
- No que está pensando? – Perguntou Ana.
- Em nada. – Sorriu Pedro. – E você?
- Em nada também.
Ambos ficaram em silêncio curtindo o som do quarto, o qual
fazia a trilha sonora de fundo. Ana se levantou e debruçou na janela do quarto
e ficou olhando avulsa pela rua, que deserta estava. Pedro se levantou
lentamente e foi andando até a garota, abraçando-a por trás, lhe deu um beijo
na nuca.
- Você está distante. – Comentou Pedro.
- Por que acha isso?
- Sei lá. Apenas acho.
- Eu fico só pensando.
- Em...
- Em o que fazer amanhã quando você partir.
- Ana, vamos mesmo falar disso?
- Pedro, nunca sei o que fazer quando o assunto é você! –
Alterou Ana se virando para o garoto, com o qual estava se relacionando há um
mês.
- Como assim?
- Eu não sei o que te falar, eu não sei como continuar, eu
não sei o que fazer para não assustar você.
- Vá com calma, garota.
- Não me peça calma! Tudo que eu menos quero, e consigo, é
ter calma.
- Eu sou complicado, Ana.
- Eu sei disso. Eu sou impaciente, nós nunca combinaríamos.
- Eu gosto de uma outra garota. – Disse Pedro.
Ana ficou com o olhar fixo na feição que Pedro fez ao dizer
que era outra a dona de seu coração. Ana tirou os braços de Pedro de cima dela,
e sentou na cama, escorou os cotovelos no joelho e olhou para o garoto.
- Qual foi? Eu já havia te dito antes. – Tentou Pedro
justificar.
- Eu achei que eu tinha sido o suficiente.
- Pra...? – Pedro gostava que Ana completasse suas frases,
por isso sempre começa a pergunta com a justificativa que ela daria.
- Pra te bastar.
Pedro se aproximou de Ana, se ajoelhou se aos seus pés no
tapete de seu quarto.
- Eu estou curtindo a minha noite com você. Não podemos
falar disso em uma outra hora?
- Não precisa justificar. Somente seja breve. – Disse Ana olhando nos olhos de Pedro. –
Você tem certeza que isso. – Gesticulou mostrando o quarto ao redor. – é o que
você quer?
Pedro ficou em silêncio.
- Seu silêncio me machuca, cara, não faz isso. – Lamentou
Ana se levantando e deixando Pedro ajoelhado ao chão.
- Ana, por favor...- Pediu Pedro.
- Eu preciso de água. – Comentou Ana, que abriu a porta e
foi em direção a cozinha.
Ana foi andando até o fim do corredor, passou a mão no lado
direito da cozinha, escura, e acendeu as luzes. Abriu a geladeira, ficou
pensando no que queria, e teve uma sensação medonha de quando se esquece o que
quer. Ana então fechou a geladeira, e tentou voltar pelo corredor andando de
costas – sua mãe uma vez havia dito que quando se esquece o que iria fazer era
só voltar andando pelo caminho que havia feito que logo se recordaria. Ana se
lembrou que precisava sim de algo, voltou até o quarto e Pedro estava juntando
suas coisas e colocando na mochila.
- O que você está fazendo? – Perguntou Ana imóvel da porta.
- Me desculpe. Isso é um erro. – Lamentou Pedro ao vestir a
camisa que estava na cabeceira da cama.
- Eu sou um erro para você? – Perguntou Ana.
- Na verdade, eu sim. – Pedro colocou a mochila no ombro
direito e foi andando até a garota.
- Vamos consertar as coisas, por favor. – Pediu Ana.
- Ana, está tarde pra mim. Eu preciso ir. – Respondeu Pedro,
como quem queria mudar de assunto.
- Se você sair por aquela porta estará me mostrando que você
na verdade nunca acreditou em nós.
Pedro olhou Ana por alguns segundos, deu um beijo na testa da
garota, e disse:
- Se cuida!
Pedro então foi até o final do corredor, abriu a porta da
sala, e saiu. Ana ficou imóvel ao corredor vendo toda aquela cena, não sabia o
que fazer, como fazer, ela não sabia o que queria numa hora daquelas. O homem
que ela julgava que seria o melhor pra ela, acabara de sair por aquela porta.
Ana então correu pelo corredor, abriu sua imensa janela e avistou Pedro saindo
do prédio e abrindo a porta do carro. Ana abriu a boca para chamar por seu
nome, mas não conseguiu, o som não saiu,
ao ver que o farol se acendeu e Pedro havia girado a chave da ignição, Ana
então gritou:
- Pedro!
Pedro abriu a janela do carro e olhou para cima.
- Da próxima vê se tira esse boné pra falar comigo, seu
moleque! – Gritou Ana.
- Sua maluca! – Resmungou Pedro que logo em seguida deu
partida no carro.
“Ainda aprendo a separar sexo, de amor...” Pensou Ana
fechando a janela, não só do seu quarto, como também do seu coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário