Era um espelho normal, mas toda vez que ela se deparava consigo mesma via que tudo nela era uma farsa. Nas manhãs se sentava com seu marido na mesa do café, e o servia com delicadez antes de ele sair pro trabalho. A mucama recolhia a mesa enquanto ela delicadamente sorria para os pássaros na janela, aparentava ser uma mulher tranquila, com o relacionamento perfeito, a vida perfeita. Cobrida dos pés a cabeça, com vestidos luxuosos, ninava sua filha de nove meses e cantava docemente até pegar no sono. Elisabeth com delicadeza a colocava no berço e subia as escadas de sua luxuosa casa. Aproveitava que seu marido não estava em casa para cuidar de si mesmo, pintava quadros, com sua doce delicadeza ela dava vida aos tons brutos de violência aos quadros; os quais vendia na sua feira de arte nos finais de semana, sua imensa casa aparentava uma humilde prisão, ela era prisioneira de si mesma, e de todos que a rodeava. As seis da tarde ela aproveitava para ver o lindo sol se por, às sete se vestia para receber o marido, que chegaria faminto do trabalho como de costume. Sim, sua vida era uma rotina. Olhando no espelho enquanto tirava a roupa ela chorava ao ver as marcas de correias deixadas em seu corpo e lembrava com tristeza o que acontecia todas as noites antes de se deitar ao lado daquele que a fazia mal, e que para os olhos de suas amigas seria o marido perfeito. Sim, sua vida era uma rotina.