Último dia 16, no restaurante Columbia, aconteceu em Carangola o lançamento, infelizmente pouco frequentado, do romance Scarlet, de Reynaldo Araújo. O carangolense nascido em 1992 se mudou pro Rio de Janeiro não faz muito tempo e divulgou o evento literário em redes sociais. De fácil leitura, as cerca de 300 páginas do livro contam a respeito de Oscar, um rapaz que está saindo do Ensino Médio e, aos poucos, vestindo a peruca loira e as roupas da fria Scarlet. Essa personalidade dupla conduz toda a narrativa de mais fala do que falo.
Os problemas vividos por Oscar – familiares, vocacionais, sexuais, emocionais, econômicos – ganham mais descrições do que os poucos momentos de homoerotismo. Como me disse Reynaldo Araújo em entrevista, ele recusa obras que exploram o sexo vulgar. Essa recusa é uma espécie de negação de seriados como Queer as folk e filmes, tal Bruna Surfistinha. Por títulos assim é possível ter em mente um pouco do contexto cultural da produção de Scarlet. Nela, pouco da literatura brasileira: talvez algo magro de Caio Fernando Abreu e quase nada do cânone em geral.
O que sobra no livro é uma forma mass cult de composição. Há nele certa intencionalidade guiada para a supressão do que poderia especificar. Scarlet tenta se universalizar e facilitar o seu consumo. O vocabulário é comum. Em nenhum momento é necessário ao leitor consultar o dicionário. As frases e os parágrafos são curtos. Os capítulos com poucas páginas. Há constante criação de tensões, cenas que gostam de causar, gerar espanto. Esses recursos formais dão fluidez ao texto. Fazem lembrar títulos que frequentam estantes pops.
O tempo da narrativa é também acessível a todos. Não há, por exemplo, menção a datas particulares. Os acontecimentos do livro pairam sob uma sombra temporal. O contexto é sim o contemporâneo, visto em contínuos usos de tecnologia pelos personagens. Além disso, referências a datas comemorativas existem, como natal e reveillon. Mas nada aconteceu em hora, dia, mês e ano específico.
E onde? O espaço também costuma ficar nublado. Não se sabem nomes de ruas, bairros, cidade. Seria Carangola? Suspeito que a trama se adeque bem a alguma cidade como Viçosa, mas não universitária. Pois se de um lado são mencionados problemas típicos do interior, por outro há referências a shoppings, cinema, boites gays.
Apesar de não se referir a Carangola e embora Reynaldo Araújo recuse o rótulo de literatura gay – ambas em prol da universalização ao modo mass cult – o romance toca em problemas da homossexualidade carangolense. Os rostos virados nas ruas, o preconceito constante nas escolas e os pais agressores compõem o universo ficcional de Scarlet e o real de Carangola. Essa mesma homofobia pode ter sido um dos fatores para o vazio dia de lançamento do livro.